Blog
Como pode ser esperado de um blog, se trata de uma obra em andamento. No momento, publicamos aqui três tipos de textos que se adequam à definição de um blog.
- em inglês: textos que Touché e Guy publicam com uma certa regularidade no LinkedIn.
- em português: as contribuções abaixo de Touché ao site de nossa empresa no LinkedIn, e postagens anteriores para Brasil com Z, blog de brasileiros expatriados sobre os países onde moram. A participação terminou algum tempo atrás, mas os textos de Touché continuam sendo interessantes.
- em português, holandês, inglês e francês: sempre que viajamos, enviamos newsletters para os amigos em vários países. No ínicio, as mensagens eram somente em português, depois foi adicionada uma versão em holandês e em 2016 fomos loucos o suficiente para escrever em francês e inglês também durante nossa estada em Nova Zelândia/Austrália e Costa Rica. Vamos progressivamente postar alguns relatos de viagem, voltando no tempo.
Nota: a última mensagem está no topo. Use o menu à direita ou role para baixo para encontrar mensagens mais antigas.
nossa empresa Toucheguy no LinkedIn em 2024-2
Du bestemmer
Como se aprende a tomar decisões?
Parece que é um processo que flui naturalmente, afinal desde pequenininhos nos vemos frente a opções e o exercício da escolha se torna mais complexo com o passar dos anos, quando decidir passa a ter conotações mais significativas para a vida. Exemplo muito bobo: vestir uma camiseta, seja da cor que for, em geral não fará diferença quando se trata de um passeio ao ar livre, mas causará estranheza se vamos a um casamento, mesmo considerando a informalidade que tem predominado atualmente. Uma criança não tem que se preocupar com isso, basta preferir a camiseta azul e punto.
Claro, a importância de uma tomada de decisão varia consideravelmente pois as consequências podem ser graves, afetar outras pessoas, impactar na vida em torno, o que demanda se poder fazer uma análise objetiva anterior à decisão em si... Mas também às vezes não é nada disso e simplesmente basta escolher o que se prefere, sem elocubrações, so simple can that be. Se der certo, parabéns, se não der certo, sobra prá alguém... E aí entra um fator muuuuito importante, que é a cultura pessoal e social onde tal decisão é tomada.
Senão, vejamos uma pequena comparação entre dois países bem diferentes: a Dinamarca e o Brasil. No primeiro, desde a infância a resposta a perguntas do tipo ´não sei o que é melhor, o que você acha, ou algo no estilo´ é quase invariavelmente: ´Du bestemmer´, que no idioma da terra significa ´você decide´. Isso parece um mantra. Fantástico exercício de liberdade de escolha, não é mesmo? É. Sem dúvida que sim. No Brasil, ao contrário, só o que não falta são os opinadores. Todo mundo sabe o que é a melhor opção para o Outro, sobretudo quando não há razão para se sentir envolvido no resultado. Aqui, se pode falar dos laços de solidariedade e do conforto que é poder compartir dúvidas.
Vamulá? Supondo que se possa optar sobre o sistema cultural, o que não necessariamente está ligado a que se ´decidiu` viver em tal lugar, o que cada um prefere? Quando se vive entre duas realidades, é sempre bom manter o olhar crítico sobre vantagens ou comportamentos difíceis de por em prática. A considerar que poder decidir por si mesmo é profundamente agradável, pode mesmo soar como o exercício mais completo do respeito à individualidade. No Brasil – e não só – onde cada um se mete na vida de cada outro com a maior naturalidade, fica fácil entender a ´rebeldia´ e a ´ingratidão´ de quem não aceita intromissões. Na Dinamarca, o ato de decidir implica em se assumir as consequências sem o álibi daquela omissãozinha tão aconchegante...
Enfim, tema a pensar. Quer pensar ou não?
Du bestemmer!
E güenta o tranco, viu ???
Bombons coloridos
Crianças mimadas, nos acostumamos a comer bombons, ai que delícia! Ainda mais que as embalagens sempre são lindas, de cores brilhantes e mesmo desenhos mimosos, que aumentam o prazer de saborear algo tão delicioso.
O ritual delicado, de abrir aquele pacotinho lindo, já antecipando a gostosura. Primeiro, a camada de chocolate, hmmmm...! que também pode ter cores e modelitos diferentes: chocolate ao leite, marrom, chocolate branco, chocolate negro. Todos sempre convidativos ao paladar. Mordidinha carinhosa e penetramos no mundo do sabor escondido, aqueles recheios incríveis que a gente nem pode imaginar tanta variedade! Tem os alcoólicos, tem os frutistas, tem os hortelanzistas... As vezes se pode saber o segredo antecipadamente, como no caso das nozes e avelãs, que nem esperam pelos dentinhos curiosos para mostrarem seu valor, sendo visíveis do lado de fora do bombom.
Existem os bombons vaidosos, cheios de decorações, que nem vem empacotadinhos. Você olha na vitrine e pumba, já foi atacado pelo desejo chocolatista!
Pois é. Parece que o ataque mudou, ainda que as vitrines sigam exibindo produtos que parecem bombons. Embrulhados em cores atraentes, em formas sedutoras, nós-crianças somos levados, mais e mais, a consumir a mentira.
Os meios de comunicação tem possibilitado a criação do gosto pela violência-bombonizada. Você pega um tema como destruir e matar, embrulha nas cores vibrantes das bandeiras, chama o produto de defesa à pátria/justiça/paz ou algo bem bonito como rótulo, e expõe nas prateleiras das telas e palcos. O resultado financeiro é ótimo, filas se formam para comprar e degustar os bombons-mentira, porque nós-crianças somos atraídos pelo que parece gostoso.
Assalto medieval
- Oh! Linda dama, cá estou, cavaleiro andante da “Ordem dos Dignos Assaltantes Metropolitanos”, para saudar vossa beleza e a elegância de vossas vestes...
- O quê???
- Sim, oh, senhora! Como membro desta digna entidade, cabe-me defender os interesses de outras belas senhoras, que conosco partilham altos ideais comunitários...
- Ah! Mas o que você faz?
- Não sou o único, senhora. Eu e meus irmãos de ordem vagamos por estas paragens na tentativa de arrebanhar bens para suprir as carências de nossos celeiros e parcas propriedades.
- E essa arma?
- Não vos preocupeis, linda senhora. Trata-se apenas de uma pequena concessão de nossos dirigentes aos mores atuais.
- Mores?
- Hábitos, linda dama. E é por isso que, cavalheirescamente vos peço que me entregueis as chaves desta bela carruagem, movida a alguns cavalos a mais do que as que usamos, bem como vosso ouro e todos os pergaminhos que abrigais em vossa morada.
- Não entendi nada. Afinal isso é o quê? Um filme? Um programa novo de TV?
- Não anta. Passa tudo. Vamos. Chega de brincar, ou te mato.
Aos burrocratas deste planeta
Você, que passa na rua sem me ver e me nega o seu sorriso – nem mesmo um simples bom dia.
Você que fica preso ao barulho das buzinas no trânsito enquanto não ouve o bater de seu próprio coração.
Você que ama a tecnologia, micros, calculadoras sofisticadas, sei lá, a parafernália toda conseqüente desta suposta revolução da ciência e não percebe o SER, que não requer técnica nenhuma, só a bondade de viver a inocência.
Você que passa suas horas de “lazer” enfurnado em cubículos esfumaçados e bêbados e não curte o prazer de andar descalço num areia ou relva macia em comunhão com a Natureza.
Você, meu caro tá morto e não sabe. Você não é, como repete sempre, um progressista-fascinado-pelo-desenvolvimento-humano, porque você nunca foi nem será HUMANO, apenas mais um robô saído da linha de produção do capitalismo.
Você, que não existe, é ótimo, sabe?
Porque é em você que eu me miro pra ver o quanto é bom ser GENTE, com tudo que dói e dói e dói.
Você, que nega a VIDA, me mostra o feliz que sou por VIVER.
Você, meu caro clone, me ensina que só o amor que você desconhece, que está contido em cositas tão pequenitas, é a verdadeira fonte da sabedoria.
E a tecnologia não tem nada a ver com isso.
Símbolos
Prá que tanto auê em torno de uma bobagem? Afinal, símbolos são apenas representações criadas, sem nenhuma base científica nem real, não é mesmo? Quem conhece os fatos sabe que eles são o que são, o concreto e o real, así es la vida.
Então, prá que sinais, signos, ou afins? o dicionário Houaiss da língua portuguesa apresenta diversas definições e vários exemplos...tanto blá blá inútil. 'Aquilo que, num contexto cultural possuiu valor evocativo, mágico ou místico' comprova a falta de sentido desta estória toda.
Nesta época em que a tecnologia se impõe, a ciência explica praticamente tudo, o raciocínio dá conta do sentimento, fórmulas justificam as emoções e até mesmo buscam decodificar o como se pensa, tornou-se totalmente desnecessária a representação, seja de um fato, idéia, sentimento ou sonho.
Basta o que ainda é e o que está. Tá bom demais. Símbolos são resquícios de primitivismo que ainda se mantém, mas que precisam ser combatidos e evitados, porque irreais.
Nós que crescemos, estudamos e aprendemos, já devíamos ter assimilado esta verdade básica: símbolo não simboliza nada.
Pura bobagem de gente inadequada e fora do tempo.
No entanto, há quem ouse declarar: `no creo en brujas, pero que las hay, las hay.´ Mas a gente sabe, é simbolicamente falando, claro.